Pais, Será que vocês, entre tantas mensagens, receberam este texto? Confiram: é um dos poucos que merecem ser compartilhados. Leiam-no, com o coração aberto e a intenção de colocar em ordem o turbilhão de emoções das quais estamos emergindo. Que os nossos afetos sejam maiores que as nossas diferenças e que o bom senso e o diálogo –pacifico! – predominem nos nossos relacionamentos! Um grande abraço, Coli As Consequências da Avalanche Martha Medeiros É um premiado filme sueco de 2015. Chama-se "Força Maior". Uma família (pai, mãe e um casal de crianças) tira seis dias de férias para esquiar nos Alpes. Na manhã do segundo dia, estão almoçando ao ar livre, no deck do hotel, cercados por outros hóspedes, quando, nas montanhas ao fundo, um filete de neve começa a escorrer. Não parece perigoso. Minutos depois, aquele deslizamento sem importância cresce em dimensão. Avalanches controladas são comuns, mas aquela demonstra estar ligeiramente descontrolada. Até que, de forma súbita, a neve fica prestes a invadir o deck. Pânico. Algumas pessoas gritam e muitas correm, incluindo o pai de família que dispara sozinho a fim de se abrigar, deixando para trás a mulher e os dois filhos. Poderia ter sido um acidente com mortos e feridos, mas não: apenas uma névoa seca cobriu o ambientee, assim que se dissipou, os que correram retornaram aos seus lugares, inclusive o pai. A família prossegue com o lanche, mas dali em diante, nada mais será igual. Descobriu-se que aquele homem, ao se desesperar, segue impulsos egoístase se desgoverna. Nesse domingo se encerrou uma avalanche. Nas últimas semanas, fomos soterrados por textos, vídeos, áudios, fotos, fakenews, ofensas e postagens absurdas que invadiram as redes. Desejo, depois da esquizofrenia toda que, o que parece uma tragédia, demonstre ser apenas uma névoa seca que não deixe mortos e feridos pelo caminho. Se o presidente eleito tiver um mínimo de responsabilidade, será diplomáticoa fim de reunir todos no mesmo deck de novo e a vida seguirá com suas avalanches controladas e não fatais. Mas será que nossas relações pessoais sobreviverão sem sequelas? No filme, a atitude inesperada e covarde do pai transfigura os laços e, dali por diante, inaugura um distanciamento difícil de transpor. Será que nós que passamos os últimos dias trocando farpas com os amigos e familiares por causa de nossos antagonismos,conseguiremos restituir 100% o afeto que havia antes? A não ser entreaqueles que construíram uma base de amor muito sólida, creio que essa eleição tão polarizada fragilizou alguns vínculos, sim. Não estávamos apenas defendendo um candidato ou outro e sim, diferentes visões de mundo, e com isso desnudando raivas, angústias, preconceitos, medos, maledicências, liberalidades, perversidades. Como não se espantar com pessoas que, no convívio social, parecia afins, mas que, diante de um confronto, revelaram uma faceta bastante incômoda? Ninguém sairá perdendo se o novo presidente conseguir restabelecer o crescimento do país sem colocar em risco a integridade de seus habitantes, mas uma baixa já ocorreu: a da admiração por pessoas próximas que, equivocadamente, julgávamos imunes a certas pequenezas |